Me pedem um organograma. Mas o que querem mesmo é evitar o conflito.
Muitas vezes, quando uma organização me procura, o pedido vem embrulhado num discurso bem conhecido: “a gente precisa rever o nosso organograma”.
Geralmente é o resultado de algum diagnóstico feito por uma consultoria anterior que apontou “problemas na estrutura”. Mas quem vai executar a mudança? Não eles. A bola fica comigo.
No começo, o pedido parece técnico. Me mostram caixas, setas, fluxos. Falam de alinhamento, eficiência, “melhor aproveitamento das lideranças”.
Mas basta escavar um pouco que outra camada começa a emergir. O que está sendo chamado de “problema de estrutura” é quase sempre um sintoma - e não a causa. Não é sobre caixinhas, é sobre gente.
Com o tempo, as conversas vão ficando mais densas. Começam a aparecer histórias de ressentimento entre áreas, jogos de poder silenciosos, relações atravessadas por favoritismos, alianças, medos.
O CEO que infantiliza todo mundo, o gerente que controla tudo por meio de favores, o time que se protege formando alianças afetivas. O organograma vira só uma ficção confortável.
É nessa hora que o meu trabalho começa de verdade. Porque desenhar uma organização exige mais do que mover caixinhas: exige olhar para as dinâmicas subjetivas, os afetos não-ditos, os conflitos estruturais que ninguém quis nomear.
E, principalmente, entender que as organizações são sistemas sociais e não mecanismos com peças substituíveis.
Então, quando me pedem um novo organograma, eu pergunto: pra resolver o quê, exatamente? Porque se for pra desenhar mais uma ficção, talvez não precisem de mim.
Mas se for pra encarar a realidade como ela é ( complexa, política, humana ) então podemos começar.
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Quer entender como o Design Organizacional vai muito além de organogramas?
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"Você tem um problema de Design Organizacional e nem sabe"
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